depois que meu gato partiu, nunca mais fechei as janelas



a casa está um caos
a cabeça com névoas 
organizo itens como quem dá 
voz aos nascimentos
o gato ainda não retornou do passeio noturno
aprendi que um sopro de vida no fundo das canetas-gel 
as trazem de volta ao risco
outras peças também reclamam
mas ainda não é o tempo de 
voltarem à tona
já é noite e o sumiço do xéxeu me preocupa
não consigo organizar mais nada 
sempre haverá um trecho desabitado
submerso nas lembranças e na couraça muscular
palavras perdidas no meio do verso 
quando a caneta falha 
vacilos que cerram vozes neste poema 
mesmo dando início a uma poética
aos novos ásanas


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